20081118

FLORES E RETRATOS

Eis que, naquele momento, trajei-me de flores,
Como forma ou desejo daí estar presente.
Ao acaso, simplesmente, vivenciei à distância só fervores,
Razão que em si tudo era transparente.

O fato retratou a matéria viva de minh’alma,
Que existe até mesmo em claros sonhos.
O perfume que embora delas se esvaio com calma,
Ainda voltou pela janela recoberto de versos e contos.

Eis que, depois, revesti-me de alguns retratos,
Como forma ou vontade de marcar presença constante.
Disto não espreitei a existência de nenhum hiato,
Que dispersasse meu desejo de vê-la sempre adiante.
OUTROS E EU

Poetas outros versos para brilhar,
Em ditas flores sem vida para se punir.
Cantores outros para afinal musicar,
Em ditados, em canais, sem desejos de existir.

Caminhos de um qualquer são distantes de rumo,
Em estradas muito longas a lugares desnudos.
Mundos aquéns errantes em brumas,
Em faces opacas carentes de cume.

Brilho meu de luzes por ti se acendem,
Fotos, retratos, que não envelhecem com o tempo.
Lágrimas minhas nunca me repreendem,
Pois sou brisa de amores distinta do vento.

Meu mundo em ti avisto em furta cor,
Sou teu poeta, tua flor, no palco da vida, teu cantor.
Tempos, atalhos, tudo passa mas nada me envelhece,
Penso em ti a toda hora, e nada na vida me entristece.

20081020

SOL E LUA


És a luz em toda vida,
A cura do sofrimento das feridas.
Espelho em vasto puro amor,
Vida intensa de um corpo sem dor.
Foste terra, hoje, claro fogo,
Que assola o espírito abrasador.
Foste água, hoje, és sede,
Que sacia a alma nos dias de calor.
Inspiro larga escala o teu ar,
Trazido de ondas do alto mar.
Neste céu sagaz mora teu brilho,
Vejo-a viva em estrelas coloridas.
Esta noite és minha e do teu véu,
Ausente és clara, presente és céu.
Triste fico, o dia vai chegar,
Mas noites terei a te sonhar.
És o universo, aqui a contemplo,
Piscando os olhos a me namorar.
Dia, sol, acalorar teu pensamento,
Noite, lua, refrescar teu sentimento.

20081006

CERTOS DIAS DISTANTES

I
Meu corpo em chamas explode a todo o momento.
Suas brasas solidificam rochas no meu peito
que pulsa amores.
Deus, então, diante dos prazeres dos infinitos céus,
agradece por essa energia sedutora que se espalha pelo universo afora.

II
A tal ponto em pensar, a natureza foi absorvida em mim,
deixando-me sem vida própria para nela renascer.
Meus passos vão ao seu encontro de tal modo que meu corpo exala todo o seu suor.
Inspirando o ar que lhe dar vida, meus olhos vêem unicamente o que ela enxerga.
Sou, assim, no todo, só natureza.

III
Sou teu mar, o ar. Tua areia! A teia
Que nivela teus caminhos.
Teu ninho! Sou teu sol, a voz.Tua lua!
Pensando-te pura. Sou teu grão! No chão, senão tua Vida.

IV
São difíceis os tempos que ora me reprimem, na profusão de mistérios e, ao mesmo tempo, certos temores. Cansado estou a esperar, enfim, os dias quase sempre a me tragar, em desejos voltados às asas de um homem que não consegue voar.
Meus olhos estão penosos e cansados tanto quanto os limites da visão frente a esperança. Minha voz, uníssona em único tom de tanto gritar, implora-me mais que a fome. Meus pés, sentindo dores e calejados destes caminhos em todo lugar, saem ao encontro dos ares. Minhas mãos, procurando bem de perto outras quaisquer, aclamam corpos em toques. O cheiro inerente a própria vida, são ventos que trazem aromas de tão longe. Meus sentidos reunidos em em si reprimem a consciência da minha existência, por isto sofro. Me entristece em poder existir agora apenas em poesias e em sonhos.
AO ACASO PENSANDO EM TI

I
A partir do banho de paixão intermitente,
que me inspira, me aclara, que derrama
luzes sobre meu espírito, meu ser se purifica em ti.
Presumo que jamais brotarão em minha vida
águas cristalinas tão iguais as da tua fonte,
de onde vêm, dia-a-dia, tudo que sacia
as chamas da minha alma.


II
Na tarde que findava, eis que deveras irrompe a noite,
o som da natureza proferia constante a tua voz.
Em cada rosto que passava, teus olhos fitavam
com vigor os pobres meus.
Aos passos que transitavam, sentia teus pés
avançando todos os caminhos.
E do abraço do amigo que me acompanhava, que se ia,
restou em mim teu abrasado calor, de tanto te imaginar.
Pena de mim, pois só saudade é o que me sobra,
na tarde que passou, quando o tempo me foi fiel
em não perdê-la de vista.
SEMPRE ASSIM

Eu tanto procuro os dias mais comuns, simples e sem rumo, feliz na aurora ao amanhecer e na tácita noitinha ao escurecer.
Desdobro-me em andar a passos singelos, realçados em vida sem desafios, de bem com o vento cujo tempo traz-me chuva e, sozinho, sonolento eu durmo.
Eu existo em querer-me assim!
Todavia, ainda não sentei a mesa contigo, discutindo ciúmes por causa de um amigo. Tampouco sorridente em casa me esperaste, depois de um cansado dia, oferecendo-me conforto e abrigo. Nem me olhaste aos olhos fartando-me em um forte brilho da paixão da tua íris.
Eu insisto em altos brados que sou assim!
Deitaste comigo embriagado n'algumas noites, mas jamais senti a luz do quarto se apagando, e teu corpo com açoite clareando meus insanos desejos. Aliás, sequer me lambuzaste com teu batom vermelho ou me deste um beijo com sabor de muitos quereres.
Embora eu insista em pensar, dizer, tentar ou viver, a verdade é que ainda existo assim!
Porém, cônscio estou que assim sempre serei, todo dia e nas longas madrugadas, pois tua voz rouca soluça aflita teus conflitos distanciando-te léguas a fio o teu infinito de mim.
Mesmo que os dias sejam tais, o vento, o mau tempo ou os fenômenos iguais jamais apagarão o teu nome sedimentado nas areias da minha vida. Muito menos a tua imagem esculpida em sonhos tão reais será demolida do que desejam os meus pobres olhos.

20080802

MINHA CIDADE

A cidade em que eu nasci, não a vejo mais inocente;
Lá se foi meu alentejo de pouco sonho sorridente.
Tempos outros ser criança, terna era a magia do prazer;
Sol e lua, noite e dia, da vida nada podia entender.

Na cidade em que eu nasci, os júbilos vinham da chuva;
Meu olhar abria vista de caminhos, desvios e curvas.
Os desejos eram tenros em futuros sonhadores;
Pouco tempo lá vivi, num jardim de escassas flores.

A cidade em que nasci, nunca mais será a mesma;
Nos tempos de hoje eu tenho a fonte da casta beleza.
Logro amor, carinho e vida, detenho sonhos os mais belos;
O sol emana límpido prazer, a lua as noites que espero.

Na cidade em que nasci, hoje nutre uma vontade;
Dia e noite o meu anseio é lá ter nova morada.
A cidade me contenta, me apraz e por ela eu deliro;
Tudo isto hoje eu sinto por obra de um único brilho.

20080727

REPENTE

Eu já tentei tratamento, refletindo consciente
Pra aliviar essa dor.
Me gotejei de analgésico, meu remédio não é médico
Que me mostre outro valor.
Me sufoquei sem dormir, tive muito que engolir
Só por causa desse ardor.
Me inclinei ao anestésico, até perdi o que ético
Pra tirar esse calor.
Porém, tudo foi em vão, e o suor das minhas mãos
Me ensinou mais amor.
Pensei mais em esquecer,
Que é coisa da idade, e vem logo a saudade
Pra me trazer mais rumor.
Em saber que estou certo e cada dia tá mais perto
De reviver esse fervor,
Penso, digo, logo existo, mas nem com reza de bispo
Alguém me tira esse clamor.

20080726

SENTIR E PENSAR

Silêncio, estou quieto a pensar! Peço distância da simples existência; não aprecio caos, tranqüilo estou a sentir.
Não há Lei neste universo que me proíba de estar em solidão e viver só pensando. Querem me impingir doutrinas, que me punam, então...!
Não existem tratados que me imponham fazer o que todos conclamam – minha vida é sentir, é pensar! Posto que meu único desejo é ficar só, falem, conversem, divirtam-se, pois nada vejo, nada escuto...!
Que me prendam e me exilem em qualquer abrigo, pois a mim nada interessa. Podem me tratar com rigor diante de todos os castigos, mas me deixem sentir.
Que me apliquem normas, me queimem nas fogueiras dos aflitos, mas minha alma estará livre. Só não vou trair a mim mesmo parando de sentir e pensar!
Não, não...! Não tentem me impedir, impingindo-me crimes que jamais cometi, tendo em vista que nenhum mal eu cometo, tampouco procuro dizer que nada mereço.
As mãos que tenho nunca feriram ninguém; Da língua que aprendi jamais usei uma vírgula para maltratar quem quer que seja; As armas que possuo são relíquias em defesa de um único bem. Tudo que sinto é chama do meu amor, tudo que penso é fervor da paixão.
Isolem-me dos seus mundos, me despossuam de tudo que tenho, pondo-me algemas, armaduras, enjaulando-me feito bicho, porém, me deixem sozinho que não me rebelarei jamais. Só preciso ficar em paz! Que me deixem só – Eu, minha necessidade de sentir e meu pensamento sempre correndo ao encontro dos meus sonhos.
Diante de qualquer prisão, por si só há liberdade, amor, em tudo que sinto e tudo que penso!

20080720

Oca - Pq. do Ibirapuera - foto
MONÓLOGO DE FÉ

Acordo silente, calmo e reflexivo, à espreita de mais um dia; no entanto, ao esteio de uma percepção de fé, permito-me mensurar o fato.
Dias a fio já se foram na vida e jamais o afã de tamanha reação. Ainda que não saiba a exata razão sobre isto, em sua essência, a absoluta ausência racional do fato, talvez expresse real valor. Inúmeras vezes roguei a Vós contra os pecados do mundo e os demais frutos proibidos; a cura das feridas e as diversas formas de intrigas...! Às expensas da justiça no mundo, clamor nunca me faltou, bem como aversões às visões em nosso planeta de tanto desamor.
Renascendo das próprias cinzas advindas do empenho em um mistério, tal necessidade me assola, me venera, me encanta e é na vida o que mais quero. Então, acordei para Vos contemplar algo que me acontece de modo estrito, e, ao mesmo tempo, distante e diferente!
Os brados consistem em sonhos quase reais quando durmo, parecendo-me, em contrapartida, um belo sonho quando encontro-me em vigília. Vos agradeço, então, pelo que tenho apenas distante, em tão exato momento, mas que vive em mim a todo instante e concentrado em toda forma de ação.
Neste viés, esse estado me alucina ao mesmo tempo em que me ensina, então eu Vos agradeço. Obrigado por conceder-me a vida e o amor, posto que tudo é espírito, vívido, íntimo e puramente incluso em mim.
Ante Vosso saber sobre o mistério, neste lugar, calmo e tranqüilo, Vos agradeço, amiúde, pela excitação da alma e o conseqüente estado convulsivo do meu peito, de sorte que me permitem acelerar os sentidos no tempo em busca de amparo em novos caminhos.

CRÔNICA
O QUARTO E A JANELA

Senti necessidades inexoráveis, sólidas, de com o tempo brindar, saudando o silêncio e a angústia da minha própria intimidade. Apenas eu, meu quarto sombrio e silencioso e uma janela que conclama sonhos cheios de vontades e desejos que me deixam sempre recluso a tudo observar.
Estou intrínseco em mim e isolado comigo mesmo...! Eis o meu universo, grande em idéias e desejos, e estreito, pequeno, fugaz, que cinge-se a um estreito quarto com uma janela que observa atenta a vontade de um novo olhar sobre o mundo.A meu lado, nesse quarto, minhas aliadas são as madrugadas frias e reflexivas e a janela cujas portas se abrem, por enquanto, a um mundo estampado de sonhos!Contudo, um gole a mais quiçá me convença a entender esse tempo que encontra-se no mesmo lugar, sem andar, aos passos do tempo que tanto desejo passar! Decerto, resolvi tomar uns drinques ao lado da ausência constante, de uma realidade que só há existência enquanto desejos, de caminhos tortuosos que parecem não ter fim.As estradas são longas, tais buracos, tais desvios, ando, ando sem brio, sob o efeito de um presente imensamente solitário e distante em desafios.Viver, hoje, é esperar o tempo passar, é não existir, é só sonhar; é a exata consciência de que nada ela domina, e assim outra vez a vida me ensina, razão que não sei de fato o que será de mim nos dias que estou a merecer.Vem o dia, todo dia, e agora mais outra longa noite, entre as horas que se passam depois de mais um brilho do sol. Logo mais, em meu mundo, haverá de existir outro amanhecer e a vida só espera alguma certeza desse tempo tão incerto.Passado o verão e de novo outra estação, vem comigo mais um intenso e velho inverno, dentro de um tempo que ainda não me pertence!Do mundo só espero que meus pés calejados de tanto esperar, em meu tão sonhado quarto de janelas abertas, encontrem a fonte serena de água fria que do banho me faça cessar o cansaço desse comprido caminhar.

20080704

SONHO ASTRAL


Mergulho em sonho intenso quão imensa escuridão,
esta noite é densa, fria, me parece ilusão.
Em meio ao céu infinito que estar a me buscar,
bom proveito eu detenho em teus olhos me guiar.

Corro léguas sem descanso, por estreitos de esquinas,
alço vôos pelos ares em asas da tua sina.
Em caminhos que outrora não havia atingido,
chego enfim à tua rua de um destino colorido.

Ao longe te vejo clara e já posso imaginar,
na cidade anoitecida me permita te encontrar.
Conduzo a ti meu segredo que aqui adormecido,
à distância muito sofro na espreita de um abrigo.

Volto agora ao meu corpo onde mora teu encanto,
a certeza da razão é que estou mesmo distante.
Passam dias e no escuro minh’alma passeia calada,
eis que me faz ajudar a não morrer de saudade.
VONTADES DA ALMA

Certa é a vontade de naquela terra bastar,
Ser um astro da natureza que todo dia lá estar.
O sol a esquentar aquele corpo, o vento a nele existir...
Quem sabe a chuva contínua a nunca deixar-me partir.


Na próxima alva noite hei de ser pura lua.
Ausente de sombras em clareza nua,
Brilhando torrente em leves andares...
Alçando da luz o movimento dos mares.


Contudo, ainda assim eu fico triste,
De tão forte é o brilho que nela existe,
Que me inflama os olhos a chorar...!
COMPILAÇÕES EXISTENCIAIS


               TÃO IMENSA EM MIM
Sofrida tal minha
alma tão amante.
Já não sinto mais
o meu corpo viver,
tamanha a vontade
do meu próprio querer.
É que você é tão imensa,
tanto em mim constante.

CONTRADIÇÕES

Vêm de ti todas as minhas contradições:
A paz é condição passageira
porque logo assola-me a tempestade.
Deixas-me insano e, no entanto,
minha razão de ti depende.
Feliz, em pouco tempo bate a saudade

 que me entristece.
Ao escurecer, como o sol dar lugar
para a lua nascer,
Assim tu és inteira o meu universo.

DESEJO DE SER
Eu sou o que desejo ser!


Onde eu deveria estar,
NÃO ESTOU !

Portanto, existo enquanto
PENSO EM EXISTIR!

Quando tento sentir a realidade,
Recorro a lembranças tuas.
E lá posso me deliciar com a existência do
MEU EU!
PROFUSÕES DE MEMÓRIAS

MINHAS ASAS
A ave mensageira voa feliz porque
sabe o percurso de volta para casa.
Assim, sou Eu!
Eis que as asas do meu tempo
vivem em face de recordações tuas.
Só reconhecem os caminhos de volta
a teu encontro dentro de mim.

A VIDA
ACORDO !
PORQUE NECESSITO VIVER
VIVO!
PARA VOCÊ EM MIM NASCER

DA SUA ALMA !
VEM MEU ALIMENTO
À NOITE !
MEU DESCANSO É O PENSAMENTO

NO SONHO !
VOCÊ OUTRA VEZ A EMERGIR
ACORDO !
PORQUE PRECISO LHE SENTIR


O LIVRO
Minha vida é um livro com linhas em branco,
Ausente de gramática e conversas de pelejos.
Nele mergulho fundo nos verbos do teu encanto,
E por ti se inserem os versos dos meus desejos.

MINHA LUZ
As estrelas não iluminam minhas noites,
tampouco o sol me faz menos ou mais feliz.
Minha luz é o que sinto bem
dentro de mim.


AUSÊNCIA
Impressiona-me o pensamento de que
muito não vou viver.
Quando é intenso o passar dos dias,
como agora me domina o prazer,
meu coração se entristece
diante de um amor que não posso ter.

SAUDADE EM MIM
Quanto tempo terei de esperar,
pois os dias parecem não ter fim.
As gotas de saudade que me fazem
despertar são rios vivos que
correm dentro de mim.

LUTAS SILENCIOSAS
As diversas conquistas em lutas da vida
entre multidões, me impuseram
um passado de glória desértica sem fim.


A sofrida batalha que travo agora com as
paixões da alma, me custa um presente
solitário e silencioso.

UM NOVO CENÁRIO
A idéia de um fim, em tempos outros, me
acompanhou em toda existência,
andando em passos largos
dentro de mim.
Nestes dias, tenho a sensação de estar
diante de outro universo em face de
um novo cenário, cujo papel essencial
é exercido por minha necessidade
inesgotável de muito viver
e permanecer feliz.