20081020

SOL E LUA


És a luz em toda vida,
A cura do sofrimento das feridas.
Espelho em vasto puro amor,
Vida intensa de um corpo sem dor.
Foste terra, hoje, claro fogo,
Que assola o espírito abrasador.
Foste água, hoje, és sede,
Que sacia a alma nos dias de calor.
Inspiro larga escala o teu ar,
Trazido de ondas do alto mar.
Neste céu sagaz mora teu brilho,
Vejo-a viva em estrelas coloridas.
Esta noite és minha e do teu véu,
Ausente és clara, presente és céu.
Triste fico, o dia vai chegar,
Mas noites terei a te sonhar.
És o universo, aqui a contemplo,
Piscando os olhos a me namorar.
Dia, sol, acalorar teu pensamento,
Noite, lua, refrescar teu sentimento.

20081006

CERTOS DIAS DISTANTES

I
Meu corpo em chamas explode a todo o momento.
Suas brasas solidificam rochas no meu peito
que pulsa amores.
Deus, então, diante dos prazeres dos infinitos céus,
agradece por essa energia sedutora que se espalha pelo universo afora.

II
A tal ponto em pensar, a natureza foi absorvida em mim,
deixando-me sem vida própria para nela renascer.
Meus passos vão ao seu encontro de tal modo que meu corpo exala todo o seu suor.
Inspirando o ar que lhe dar vida, meus olhos vêem unicamente o que ela enxerga.
Sou, assim, no todo, só natureza.

III
Sou teu mar, o ar. Tua areia! A teia
Que nivela teus caminhos.
Teu ninho! Sou teu sol, a voz.Tua lua!
Pensando-te pura. Sou teu grão! No chão, senão tua Vida.

IV
São difíceis os tempos que ora me reprimem, na profusão de mistérios e, ao mesmo tempo, certos temores. Cansado estou a esperar, enfim, os dias quase sempre a me tragar, em desejos voltados às asas de um homem que não consegue voar.
Meus olhos estão penosos e cansados tanto quanto os limites da visão frente a esperança. Minha voz, uníssona em único tom de tanto gritar, implora-me mais que a fome. Meus pés, sentindo dores e calejados destes caminhos em todo lugar, saem ao encontro dos ares. Minhas mãos, procurando bem de perto outras quaisquer, aclamam corpos em toques. O cheiro inerente a própria vida, são ventos que trazem aromas de tão longe. Meus sentidos reunidos em em si reprimem a consciência da minha existência, por isto sofro. Me entristece em poder existir agora apenas em poesias e em sonhos.
AO ACASO PENSANDO EM TI

I
A partir do banho de paixão intermitente,
que me inspira, me aclara, que derrama
luzes sobre meu espírito, meu ser se purifica em ti.
Presumo que jamais brotarão em minha vida
águas cristalinas tão iguais as da tua fonte,
de onde vêm, dia-a-dia, tudo que sacia
as chamas da minha alma.


II
Na tarde que findava, eis que deveras irrompe a noite,
o som da natureza proferia constante a tua voz.
Em cada rosto que passava, teus olhos fitavam
com vigor os pobres meus.
Aos passos que transitavam, sentia teus pés
avançando todos os caminhos.
E do abraço do amigo que me acompanhava, que se ia,
restou em mim teu abrasado calor, de tanto te imaginar.
Pena de mim, pois só saudade é o que me sobra,
na tarde que passou, quando o tempo me foi fiel
em não perdê-la de vista.
SEMPRE ASSIM

Eu tanto procuro os dias mais comuns, simples e sem rumo, feliz na aurora ao amanhecer e na tácita noitinha ao escurecer.
Desdobro-me em andar a passos singelos, realçados em vida sem desafios, de bem com o vento cujo tempo traz-me chuva e, sozinho, sonolento eu durmo.
Eu existo em querer-me assim!
Todavia, ainda não sentei a mesa contigo, discutindo ciúmes por causa de um amigo. Tampouco sorridente em casa me esperaste, depois de um cansado dia, oferecendo-me conforto e abrigo. Nem me olhaste aos olhos fartando-me em um forte brilho da paixão da tua íris.
Eu insisto em altos brados que sou assim!
Deitaste comigo embriagado n'algumas noites, mas jamais senti a luz do quarto se apagando, e teu corpo com açoite clareando meus insanos desejos. Aliás, sequer me lambuzaste com teu batom vermelho ou me deste um beijo com sabor de muitos quereres.
Embora eu insista em pensar, dizer, tentar ou viver, a verdade é que ainda existo assim!
Porém, cônscio estou que assim sempre serei, todo dia e nas longas madrugadas, pois tua voz rouca soluça aflita teus conflitos distanciando-te léguas a fio o teu infinito de mim.
Mesmo que os dias sejam tais, o vento, o mau tempo ou os fenômenos iguais jamais apagarão o teu nome sedimentado nas areias da minha vida. Muito menos a tua imagem esculpida em sonhos tão reais será demolida do que desejam os meus pobres olhos.