20070516

Natureza Viva (óleo, acrílico, relevo e folhas secas sobre tela)
DESTINO

Por incontáveis acasos
O segredo do destino me foi pouco afável,
Tal como as águas curvas que perpassam o rio,
Muitas vezes abrindo descaminhos,
E, incólume, ele continua o mesmo.
Por dias a fio eu gritei a te chamar,
Implorei, silencioso, por teu nome!
Visei umbras do claro céu e o leite das escuras noites.
Enfim, nunca te vi, a não ser em ermos és
Ou em velhos saltos em pés a imaginar!
Demais distante o teu rosto inerte,
E meu coração sem saber sequer pulsar.
Não te conheço em calada inquietude,
Muito menos em agradável descanso.
Então, é melhor amar e contemplar
As ondas dos abertos mares e de tormentos sóis.
Quem sabe as nuvens grisalhas de figuras diversas.
É que a razão sobre mim puramente sei em ti:
A minha morada é o santuário do teu peito.

20070504

Labirinto (acrílico, óleo, relevo e rodelas de limão sobre cartolina)
SENTIDOS

Sinto enorme a falta do chegar.
Sinto falta do abraço, do cheiro e do prazer de estar, como do âmago e incompreensível sabor do sentir.
Sinto falta dos teus lábios em única expressão
quando insiste em nunca me pedir.
Me faz falta a presença, a esperança, o acaso!

Me faz falta a fantasia!
Sinto imensa a falta de todos os sentidos.

Sinto falta do olhar, do ouvir e do segredo incontido, como do lúdico e contagioso sabor de viver.
Sinto falta da própria emoção do achar
quando persiste em jamais me ver.
Me faz falta a ausência, a distância,o ocaso!

Me faz falta a paixão!
Sinto como nunca a falta do partir.

Sinto falta do suor, do calor e da coragem de também ir entre sonhos de estradas por demais distantes.
Agora, sinto fata da razão, do bem e do mal, porque sonhando nada sinto, a não ser a tua falta vibrante.
Aldeias óleo, acrílico e folhas secas sobre tela)
VIDAS

Nos contornos dos caminhos da vida
Desígnios de percalços sem fim
Sentido de perda irreparável do mundo
Em que o real e a ordem aparentam ser


Nos olhos!

Lágrimas em vermelhos intermináveis

Na boca!

Gritos em desesperos silenciosos


Constante perda da razão
Maneira simples de dizer não

Em súbito delírio de um beijo
Imperam reflexos na escuridão
Concretos em transe em caótica paixão



Carros em vultos alucinados
Chamas do calor da lua em corpos
Que inserem vida em outroras mortes
Envelhecidas pela loucura do tempo

20070503



SENTIMENTO

Nasceu momentâneo sem nenhuma explicação.
Cresceu assim, quase sem ninguém,
Contraído pelo breve mundo da paixão.

O sentimento que anda!
O sentimento que chora!
O sentimento que pede e implora!

Pairando sobre vindas e idas,
Traga-se pela lúdica beleza do ser.
E faz-se, em tal sentir, permanecer em vida.

O sentimento que canta!
O sentimento que briga!
O sentimento que pensa e se espanta!

Vai sentimento, aonde realçar a sua grandeza!
Beira todos os espaços e sementes da vida.
Vai com a coragem que urge em única certeza.

Diante do mundo de quem lhe observar,
Vai! Mas leva consigo o seu sabor de sonhar:
Viver e existir é sentir o peito chorar.

20070427


RELEMBRAR

Relembrar o que há sempre em mim,
Faz-me abrir e libertar caminhos diferentes.
Transformar muitos senões em verdadeiros sins.
O que há de me fazer oposto em pensamento.

Queria ver bem clara a aurora retornar

Nas ruas da minha terra e no meu mundo errante.
Nos olhos, no palco, na vida pulsiva que hei de amar.
Não em instantes segundos, mas presente e constante.

Relembrar o que há sempre lá fora a observar,

Faz-me ver e reviver entornos mais belos.
Mudar tudo quanto é sério em algo de se encantar.
O que há de me fazer igual ao mais sincero.

Queria ter o prazer não em tempo e duração,

Mas tão intenso como ele acontece.
No peito cansado do meu pequeno coração.
Em momentos inexplicáveis como os de uma prece.

Relembrar é estar no centro da multidão a sós.

É imaginar o impossível e a saudade de sonhar.
Pensar na vida mais sublime com uma única voz.
Trazer a lua da penumbra noite e em seus olhos beijar.

SONHOS

É noite em sombras!
Sinto-me disperso a sonhar.
É dia em claro!
Estou aflito a caminhar.
Alfim, amplos lugares sempre assim:
Silenciosos, muitas vezes
Tristes e solitários.
Que me tem acontecido!
Eis que em meus sonhos eu não estou,
Na presença eu não sou,
E caminhando eu não vou.
Perdido em sonhos aflitos,
Onde o ser é não estar,
Minh' alma pura em constante atrito,
Desejo um dia me encontrar.
Afora ao longe ou em mim no lumiar.
Acaso ainda resta algum lugar.
Sonhando ou acordado louco a procurar.
Família (fotos, guache e nanquim sobre cartolina)
MUNDOS

Olho, distante,
o mundo!
Vejo infinitas formas e ações...


Imagens
Sublevam-me ao mais profundo caos


Num súbito olhar,
no mundo!
Vejo você definida em formas e ações...


Imagem
Sublime prazer imortal

De viver e permanecer

20070419

Mural das Cores I (acrílico, óleo e verniz sobre muro)
NOITES

Olhando o deleite do sabor da escuridão
Certa noite encontrei uma estrela
Dentre centenas de veras multidões
Cintilava nas estradas de sonhos frios
Inerte sob o véu de imensos vazios

Oh! noite de iminentes astros

Que na vida seres ultrapassa

Sem sombra, réstia, sempre em si calada

Ontem a noite nela pensei
E bateu-me a saudade em lhe reencontrar
No pulsar do brilho que jamais alcancei
Forte e serene que agora em vida se abria
Em passos largos adiante ainda como guia

20070413

Mural das Cores II (acrílico, óleo e verniz sobre muro)
VIAGEM

Minha vida resume-se a uma eterna viagem,
Das que vivi e das que eu deixei de viver.
Cinge-se a pessoas e amores distantes,
Tal qual o sol, a lua, o calor do dia
E o frescor da noite.

Aliás, ela mora comigo de dia e de noite!

À penumbra dos dias cinzentos,
Dou-lhe o esquecimento.
Aos concretos que aniquilam a natureza,
Dou-lhes o eterno desprezo.

Eis que não têm vida nem sabor!

Viajo em lembranças de forma constante;
Em sonhos presentes e recordações perenes.
Linhas (acrílico e óleo sobre aço)
SONETO DE UM AMOR AUSENTE

Estavas ao acaso, certo dia,
bem distante, mas perdida dentro de mim.
Sozinha em meu tristonho pensamento
como única pétala de um imenso jardim.
Em caminhos
de ilusões jamais vividas.
Em estradas
de desejos que tanto sonhei.
Em curvas
silenciosas mais adiante sofridas.
Em quereres
ensandecidos de que nunca imaginei.
Navegas
em versos loucos na contramão,
numa certeza imensa
ao encontro de um mundo errante.
Mergulhas
na clareza pura de um só coração,
que de tão sóbrio se perde em si constante.
Sozinho aqui ou encontrando-me em ti,
tudo na vida é encantador.
Quem na alma não se deixa colorir,
ainda não sabe o que é ter um amor.

20070412

Sol nascente I (óleo e acrílico sobre tela)
SAUDADE

Breve passa o dia e tão iminente é a noite,
e com eles a vivacidade de uma saudade.
Seja nítido como o suor do sol,
ou claro como o ardor da lua.

Neblinada pelas águas do frio lá fora,
a saudade se esvai, na espreita, ao encontro de outra.
Porque ela é eterna,
é que te ofereço mais um abraço.
Um novo abraço!
Findo mais o início de um tênue cansaço.

Na noite, a voz do meu desejo te chama
para acalentar-me na rouca solidão.
Tua imagem aparece em sombra da lua no quarto,
e soando mais uma canção de niná,
durmo num escuro tranquilo e feliz,
com o canto do teu espírito.

20070411

Sol nascente II (óleo e acrílico sobre tela)
DESEJO

Em breve manhã, calma e tristonha,
de passos curtos e leves andares,
minha sombra na calçada, calada,
me almeja despertar.
Sinto-me em profundo e profuso sonho,
em que algo certo hei de encontrar,
como quem sente a vontade
lúcida de gritar!
Contudo, num lampejo em silêncio,
um imenso desejo me emerge e perpetua-se,
naquele instante, em nobre tom...
Ao mesmo tempo, avisto uma distância tão grande
e jamais tida,
que a vista não alcança,
porém, não se cansa de visar.

Te imagino em sons de versos e no diverso tempo
desse dia tão frio,
que me levam pelo vento afora
e no advento do universo se perde!
Esse vislumbre me persegue
e assim segue em outros de tormentos sóis,
a me aquecer ainda no ardor da noite.
Meu pensamento é perdido vivo no passado,
e meu presente é tão real quanto o devir.
Permaneço entre laços distantes e vazios,
em meio ao que restou sobre o que fui e para onde ir.
Oh, claro desejo
que mora bem longe de mim!