20080727

REPENTE

Eu já tentei tratamento, refletindo consciente
Pra aliviar essa dor.
Me gotejei de analgésico, meu remédio não é médico
Que me mostre outro valor.
Me sufoquei sem dormir, tive muito que engolir
Só por causa desse ardor.
Me inclinei ao anestésico, até perdi o que ético
Pra tirar esse calor.
Porém, tudo foi em vão, e o suor das minhas mãos
Me ensinou mais amor.
Pensei mais em esquecer,
Que é coisa da idade, e vem logo a saudade
Pra me trazer mais rumor.
Em saber que estou certo e cada dia tá mais perto
De reviver esse fervor,
Penso, digo, logo existo, mas nem com reza de bispo
Alguém me tira esse clamor.

20080726

SENTIR E PENSAR

Silêncio, estou quieto a pensar! Peço distância da simples existência; não aprecio caos, tranqüilo estou a sentir.
Não há Lei neste universo que me proíba de estar em solidão e viver só pensando. Querem me impingir doutrinas, que me punam, então...!
Não existem tratados que me imponham fazer o que todos conclamam – minha vida é sentir, é pensar! Posto que meu único desejo é ficar só, falem, conversem, divirtam-se, pois nada vejo, nada escuto...!
Que me prendam e me exilem em qualquer abrigo, pois a mim nada interessa. Podem me tratar com rigor diante de todos os castigos, mas me deixem sentir.
Que me apliquem normas, me queimem nas fogueiras dos aflitos, mas minha alma estará livre. Só não vou trair a mim mesmo parando de sentir e pensar!
Não, não...! Não tentem me impedir, impingindo-me crimes que jamais cometi, tendo em vista que nenhum mal eu cometo, tampouco procuro dizer que nada mereço.
As mãos que tenho nunca feriram ninguém; Da língua que aprendi jamais usei uma vírgula para maltratar quem quer que seja; As armas que possuo são relíquias em defesa de um único bem. Tudo que sinto é chama do meu amor, tudo que penso é fervor da paixão.
Isolem-me dos seus mundos, me despossuam de tudo que tenho, pondo-me algemas, armaduras, enjaulando-me feito bicho, porém, me deixem sozinho que não me rebelarei jamais. Só preciso ficar em paz! Que me deixem só – Eu, minha necessidade de sentir e meu pensamento sempre correndo ao encontro dos meus sonhos.
Diante de qualquer prisão, por si só há liberdade, amor, em tudo que sinto e tudo que penso!

20080720

Oca - Pq. do Ibirapuera - foto
MONÓLOGO DE FÉ

Acordo silente, calmo e reflexivo, à espreita de mais um dia; no entanto, ao esteio de uma percepção de fé, permito-me mensurar o fato.
Dias a fio já se foram na vida e jamais o afã de tamanha reação. Ainda que não saiba a exata razão sobre isto, em sua essência, a absoluta ausência racional do fato, talvez expresse real valor. Inúmeras vezes roguei a Vós contra os pecados do mundo e os demais frutos proibidos; a cura das feridas e as diversas formas de intrigas...! Às expensas da justiça no mundo, clamor nunca me faltou, bem como aversões às visões em nosso planeta de tanto desamor.
Renascendo das próprias cinzas advindas do empenho em um mistério, tal necessidade me assola, me venera, me encanta e é na vida o que mais quero. Então, acordei para Vos contemplar algo que me acontece de modo estrito, e, ao mesmo tempo, distante e diferente!
Os brados consistem em sonhos quase reais quando durmo, parecendo-me, em contrapartida, um belo sonho quando encontro-me em vigília. Vos agradeço, então, pelo que tenho apenas distante, em tão exato momento, mas que vive em mim a todo instante e concentrado em toda forma de ação.
Neste viés, esse estado me alucina ao mesmo tempo em que me ensina, então eu Vos agradeço. Obrigado por conceder-me a vida e o amor, posto que tudo é espírito, vívido, íntimo e puramente incluso em mim.
Ante Vosso saber sobre o mistério, neste lugar, calmo e tranqüilo, Vos agradeço, amiúde, pela excitação da alma e o conseqüente estado convulsivo do meu peito, de sorte que me permitem acelerar os sentidos no tempo em busca de amparo em novos caminhos.

CRÔNICA
O QUARTO E A JANELA

Senti necessidades inexoráveis, sólidas, de com o tempo brindar, saudando o silêncio e a angústia da minha própria intimidade. Apenas eu, meu quarto sombrio e silencioso e uma janela que conclama sonhos cheios de vontades e desejos que me deixam sempre recluso a tudo observar.
Estou intrínseco em mim e isolado comigo mesmo...! Eis o meu universo, grande em idéias e desejos, e estreito, pequeno, fugaz, que cinge-se a um estreito quarto com uma janela que observa atenta a vontade de um novo olhar sobre o mundo.A meu lado, nesse quarto, minhas aliadas são as madrugadas frias e reflexivas e a janela cujas portas se abrem, por enquanto, a um mundo estampado de sonhos!Contudo, um gole a mais quiçá me convença a entender esse tempo que encontra-se no mesmo lugar, sem andar, aos passos do tempo que tanto desejo passar! Decerto, resolvi tomar uns drinques ao lado da ausência constante, de uma realidade que só há existência enquanto desejos, de caminhos tortuosos que parecem não ter fim.As estradas são longas, tais buracos, tais desvios, ando, ando sem brio, sob o efeito de um presente imensamente solitário e distante em desafios.Viver, hoje, é esperar o tempo passar, é não existir, é só sonhar; é a exata consciência de que nada ela domina, e assim outra vez a vida me ensina, razão que não sei de fato o que será de mim nos dias que estou a merecer.Vem o dia, todo dia, e agora mais outra longa noite, entre as horas que se passam depois de mais um brilho do sol. Logo mais, em meu mundo, haverá de existir outro amanhecer e a vida só espera alguma certeza desse tempo tão incerto.Passado o verão e de novo outra estação, vem comigo mais um intenso e velho inverno, dentro de um tempo que ainda não me pertence!Do mundo só espero que meus pés calejados de tanto esperar, em meu tão sonhado quarto de janelas abertas, encontrem a fonte serena de água fria que do banho me faça cessar o cansaço desse comprido caminhar.

20080704

SONHO ASTRAL


Mergulho em sonho intenso quão imensa escuridão,
esta noite é densa, fria, me parece ilusão.
Em meio ao céu infinito que estar a me buscar,
bom proveito eu detenho em teus olhos me guiar.

Corro léguas sem descanso, por estreitos de esquinas,
alço vôos pelos ares em asas da tua sina.
Em caminhos que outrora não havia atingido,
chego enfim à tua rua de um destino colorido.

Ao longe te vejo clara e já posso imaginar,
na cidade anoitecida me permita te encontrar.
Conduzo a ti meu segredo que aqui adormecido,
à distância muito sofro na espreita de um abrigo.

Volto agora ao meu corpo onde mora teu encanto,
a certeza da razão é que estou mesmo distante.
Passam dias e no escuro minh’alma passeia calada,
eis que me faz ajudar a não morrer de saudade.
VONTADES DA ALMA

Certa é a vontade de naquela terra bastar,
Ser um astro da natureza que todo dia lá estar.
O sol a esquentar aquele corpo, o vento a nele existir...
Quem sabe a chuva contínua a nunca deixar-me partir.


Na próxima alva noite hei de ser pura lua.
Ausente de sombras em clareza nua,
Brilhando torrente em leves andares...
Alçando da luz o movimento dos mares.


Contudo, ainda assim eu fico triste,
De tão forte é o brilho que nela existe,
Que me inflama os olhos a chorar...!
COMPILAÇÕES EXISTENCIAIS


               TÃO IMENSA EM MIM
Sofrida tal minha
alma tão amante.
Já não sinto mais
o meu corpo viver,
tamanha a vontade
do meu próprio querer.
É que você é tão imensa,
tanto em mim constante.

CONTRADIÇÕES

Vêm de ti todas as minhas contradições:
A paz é condição passageira
porque logo assola-me a tempestade.
Deixas-me insano e, no entanto,
minha razão de ti depende.
Feliz, em pouco tempo bate a saudade

 que me entristece.
Ao escurecer, como o sol dar lugar
para a lua nascer,
Assim tu és inteira o meu universo.

DESEJO DE SER
Eu sou o que desejo ser!


Onde eu deveria estar,
NÃO ESTOU !

Portanto, existo enquanto
PENSO EM EXISTIR!

Quando tento sentir a realidade,
Recorro a lembranças tuas.
E lá posso me deliciar com a existência do
MEU EU!
PROFUSÕES DE MEMÓRIAS

MINHAS ASAS
A ave mensageira voa feliz porque
sabe o percurso de volta para casa.
Assim, sou Eu!
Eis que as asas do meu tempo
vivem em face de recordações tuas.
Só reconhecem os caminhos de volta
a teu encontro dentro de mim.

A VIDA
ACORDO !
PORQUE NECESSITO VIVER
VIVO!
PARA VOCÊ EM MIM NASCER

DA SUA ALMA !
VEM MEU ALIMENTO
À NOITE !
MEU DESCANSO É O PENSAMENTO

NO SONHO !
VOCÊ OUTRA VEZ A EMERGIR
ACORDO !
PORQUE PRECISO LHE SENTIR


O LIVRO
Minha vida é um livro com linhas em branco,
Ausente de gramática e conversas de pelejos.
Nele mergulho fundo nos verbos do teu encanto,
E por ti se inserem os versos dos meus desejos.

MINHA LUZ
As estrelas não iluminam minhas noites,
tampouco o sol me faz menos ou mais feliz.
Minha luz é o que sinto bem
dentro de mim.


AUSÊNCIA
Impressiona-me o pensamento de que
muito não vou viver.
Quando é intenso o passar dos dias,
como agora me domina o prazer,
meu coração se entristece
diante de um amor que não posso ter.

SAUDADE EM MIM
Quanto tempo terei de esperar,
pois os dias parecem não ter fim.
As gotas de saudade que me fazem
despertar são rios vivos que
correm dentro de mim.

LUTAS SILENCIOSAS
As diversas conquistas em lutas da vida
entre multidões, me impuseram
um passado de glória desértica sem fim.


A sofrida batalha que travo agora com as
paixões da alma, me custa um presente
solitário e silencioso.

UM NOVO CENÁRIO
A idéia de um fim, em tempos outros, me
acompanhou em toda existência,
andando em passos largos
dentro de mim.
Nestes dias, tenho a sensação de estar
diante de outro universo em face de
um novo cenário, cujo papel essencial
é exercido por minha necessidade
inesgotável de muito viver
e permanecer feliz.