20080720


CRÔNICA
O QUARTO E A JANELA

Senti necessidades inexoráveis, sólidas, de com o tempo brindar, saudando o silêncio e a angústia da minha própria intimidade. Apenas eu, meu quarto sombrio e silencioso e uma janela que conclama sonhos cheios de vontades e desejos que me deixam sempre recluso a tudo observar.
Estou intrínseco em mim e isolado comigo mesmo...! Eis o meu universo, grande em idéias e desejos, e estreito, pequeno, fugaz, que cinge-se a um estreito quarto com uma janela que observa atenta a vontade de um novo olhar sobre o mundo.A meu lado, nesse quarto, minhas aliadas são as madrugadas frias e reflexivas e a janela cujas portas se abrem, por enquanto, a um mundo estampado de sonhos!Contudo, um gole a mais quiçá me convença a entender esse tempo que encontra-se no mesmo lugar, sem andar, aos passos do tempo que tanto desejo passar! Decerto, resolvi tomar uns drinques ao lado da ausência constante, de uma realidade que só há existência enquanto desejos, de caminhos tortuosos que parecem não ter fim.As estradas são longas, tais buracos, tais desvios, ando, ando sem brio, sob o efeito de um presente imensamente solitário e distante em desafios.Viver, hoje, é esperar o tempo passar, é não existir, é só sonhar; é a exata consciência de que nada ela domina, e assim outra vez a vida me ensina, razão que não sei de fato o que será de mim nos dias que estou a merecer.Vem o dia, todo dia, e agora mais outra longa noite, entre as horas que se passam depois de mais um brilho do sol. Logo mais, em meu mundo, haverá de existir outro amanhecer e a vida só espera alguma certeza desse tempo tão incerto.Passado o verão e de novo outra estação, vem comigo mais um intenso e velho inverno, dentro de um tempo que ainda não me pertence!Do mundo só espero que meus pés calejados de tanto esperar, em meu tão sonhado quarto de janelas abertas, encontrem a fonte serena de água fria que do banho me faça cessar o cansaço desse comprido caminhar.

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